quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Madonna - Ghosttown



«"Ghosttown" is a song recorded by American singer Madonna for her thirteenth studio album, Rebel Heart (2015). It was released to radio stations on March 13, 2015 as the album's second single. The song was written by Madonna, Jason Evigan, Evan Bogart, and Sean Douglas, and produced by Madonna, Billboard and Evigan. Madonna had listened to Douglas's previous works and had requested studio time with him. Together with the other songwriters, they wrote "Ghosttown" in three days. A pop ballad, the song was inspired by the imagery of a destructed city after armageddon, and how the survivors carry on with their lives, with love being the only thing they can hold onto. Composed as an uplifting track, "Ghosttown" features instrumentation from organ and drums, with minor vocoder effects on Madonna's vocals.» (Wikipedia)

terça-feira, 7 de julho de 2015

Ceuta e Chefchaouen (IV)




Chefchaouen - © Gabriel Osório de Barros

Ceuta e Chefchaouen (III)




Chefchaouen (gatos/cats) - © Gabriel Osório de Barros

Jardim da Praça do Império - Lisboa


© Gabriel Osório de Barros

© Gabriel Osório de Barros

© Gabriel Osório de Barros

Fotografias Macro


A Fotografia Macro é a fotografia de pequenos seres e objectos ou detalhes que normalmente passam despercebidos no nosso dia-a-dia. Estes, são fotografados no seu tamanho natural ou levemente aumentados através de aproximação da câmara ou fazendo uso de acessórios destinados a este tipo de fotografia. As "macrofotografias" são exibidas em tamanho bastante ampliado para maior impacto visual.
(Texto adaptado a partir da Wikipedia)

Mecanismo de Relógio - © Gabriel Osório de Barros

Caneta de Aparo - © Gabriel Osório de Barros

Cabeça de Alfinete - © Gabriel Osório de Barros

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Culturismo - Herman Enciclopédia (Carlos Pinto Coelho)


(Sátira dedicada a Carlos Pinto Coelho)

Polina Gagarina - A Million Voices (Russia)


(2015 Eurovision Song Contest)


We are the worlds people
Different yet we're the same
We believe
We believe in a dream

Praying for peace and healing
I hope we can start again
We believe
We believe in a dream

So if you ever feel love is fading
Together like the stars in the sky
We can sing
We can shine 

Chorus:
When you hear our voices call
You won't be lonely anymore
A million voices
Your heart is like a beating drum
Burning brighter than the sun
A million voices

Now as the world is listening
From cities and satellites
We believe
We believe
In a dream

If you ever feel love is fading
Together like the stars in the sky
We can sing
We can shine 

Chorus:
When you hear our voices call
You won't be lonely anymore
A million voices
Your heart is like a beating drum
Burning brighter than the sun

Bridge:
When I look around at these faces
I can see the stars in the sky
We will sing
We will shine

Singing out
Singing out
ooh
Singing out
Singing out
ooh
Singing out
A million voices

terça-feira, 19 de maio de 2015

Mário de Sá-Carneiro - 125.º aniversário do nascimento

Comemoram-se hoje 125 anos sobre o nascimento de Mário de Sá-Carneiro (Lisboa, 19 de Maio de 1890 - Paris, 26 de Abril de 1916).


7

Eu não sou eu nem sou o outro, 
Sou qualquer coisa de intermédio: 
    Pilar da ponte de tédio 
    Que vai de mim para o Outro. 

Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Enya

Uma das minhas cantoras e compositoras preferidas, Enya, completou ontem 54 anos.

(Enya - Book Of Days)


(Niall More @ English Wikipedia)

Cristo Rei - Almada


Fez ontem 56 anos (17 de maio de 1959) que foi inaugurado o monumento ao Monumento ao Sagrado Coração de Jesus (Cristo Rei).

(Imagem: Wikipedia)


U2 - Every Breaking Wave




Papa João Paulo II em Vila Viçosa


Fez, no dia 14 de Maio, 33 anos que o Papa João Paulo II visitou Vila Viçosa. Eu tinha 5 anos, estava lá às cavalitas de meu Pai e lembro-me perfeitamente.

(Fotografia recebida por email e da qual desconheço o autor)



quinta-feira, 26 de março de 2015

Lura - Padoce De Céu Azul



Bô é coisa mais linda
Que já m`oiá na céu de Cabo Verde
Padoce de céu azul
Que núvem ninhum consegui escondê

Já m dzêb êl tcheu vez
Ma nunca bô levam a sério
Dêss confusão que vida é
Bô é únic beleza que ta restam

Crêtcheu, crêtcheu
Once forever once for all
Crêtcheu, crêtcheu
Once forever you`re the one

Refrão
Bô é darling, poesia, riquesa
Amor e compreênção
Padoce de céu de Verão
Qu`incompreênsivelmente caím na nha mon

Mar, dam bô compreêncão
Quê pa calmam ess nha coração
Bô quê nha Deus
Bô quê nha mundo


Papa João Paulo II - Muro das Lamentações


Faz hoje 15 anos que o Papa João Paulo II (Polónia, 18 de Maio de 1920 - Palácio do Vaticano, 2 de Abril de 2005) visitou o Muro das Lamentações em Jerusalém (26 de Março de 2000).


(João Paulo II, Jerusalém, 26 de Março de 2000)

Acordo de Schengen - 1995


Faz hoje exactamente 20 anos que entrou em vigor o Acordo de Schengen sobre livre circulação de pessoas em alguns países da União Europeia e outros signatários.




"O que é o Acordo de Schengen?

Os países que aderiram a este acordo deixaram de efetuar controlos nas suas fronteiras internas e intensificam os controlos nas suas fronteiras externas. Assim, a não ser que haja uma ameaça à segurança, as pessoas originárias de um estado Schengen não podem ser sujeitas a controlos policiais as fronteiras – caso isto aconteça, os cidadãos podem queixar-se à Comissão Europeia.

Já as pessoas de países terceiros que queiram entrar num país do espaço Schengen têm de candidatar-se a um visto que será válido em todos os países que assinaram este acordo. O controlo de fronteiras é assim partilhado entre todos, existindo para esse propósito um Sistema de Informação de Schengen que reforça a cooperação policial, em especial através do direito de perseguição e de vigilância transnacional. Este acordo faz também que as regras de asilo entre os vários países sejam comuns.

Quem faz parte de Schengen?

Atualmente, o espaço Schengen abrange 26 países europeus: Bélgica, República Checa, Dinamarca, Alemanha, Estónia, Grécia, Espanha, França, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Hungria, Malta, Países Baixos, Áustria, Polónia, Portugal, Eslováquia, Eslovénia, Finlândia e Suécia, assim como a Islândia, o Lichtenstein, a Noruega e a Suíça. 22 destes países são Estados-membros da União Europeia, mas Suíça, Noruega e Islândia, mesmo não fazendo parte dos acordos comunitários, partilham também este espaço.

Quem é que na União Europeia quis ficar de fora do Acordo de Schengen?

O Reino Unido e a Irlanda não fazem parte deste espaço, mas participam em alguns aspetos da cooperação como a cooperação policial e judiciária e o Sistema de Informação de Schengen. Isto significa que mantêm o controlo das suas fronteiras, embora os parceiros da União Europeia possam entrar livremente no país sem apresentar passaporte e aí estabelecer-se, tal como está definido no Tratado da União Europeia (TUE), artigo 21.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia – isto significa que mesmo sem Schengen, a livre circulação entre países da União Europeia está garantida. Roménia, Bulgária, Croácia e Chipre estão ainda à espera para poder aceder a este espaço.

Quais as principais críticas a Schengen?

Os grandes movimentos migratórios motivados pela instabilidade política que levam a vagas de imigração em países próximos das fronteiras europeias, como a Primavera Árabe, a guerra civil na Síria ou as investidas dos imigrantes ilegais africanos em Lampedusa, fazem com que o sistema seja contestado. Muitos destes imigrantes conseguem legalizar-se em países como Itália ou Grécia, ganhando o direito de movimentarem-se livremente dentro do espaço de Schengen, algo que não agrada aos países nórdicos.

Para além disto, o problema mais recente tem a ver com o retorno de possíveis terroristas de países como o Iraque ou o Iémen, que são cidadãos de um dos 26 países sem controlo interno de fronteiras, e que regressam ao seu país, para depois perpetrar atos terroristas nos países vizinhos.

Como e quando foi estabelecido o Acordo?

O acordo começou por ser uma forma reforçada de cooperação entre os governos da Bélgica, Alemanha, França, Luxemburgo e Países Baixos para “uma verdadeira liberdade de circulação dos cidadãos”, numa altura de verdadeira expansão comunitária. O acordo foi assinado em 1985 e durante os anos 90, vários Estados-membros juntaram-se a este entendimento. Em 1999, quando o Tratado de Amesterdão entrou em vigor, o acordo de Schengen foi integrado no acervo das leis europeias. Schengen é uma aldeia no Luxemburgo que faz fronteira com a França e com a Alemanha e foi lá que se assinou a primeira convenção em 1985."

(in Observador)

Ludwig van Beethoven


O brilhante compositor alemão Ludwig van Beethoven (Bonn, 17 de Dezembro de 1770 (baptismo) - Viena, 26 de Março de 1827) morreu há 188 anos.


Ludwig van Beethoven - Nona Sinfonia


(Missa Solemnis de Beethoven por Joseph Karl Stieler - 1820)

quarta-feira, 25 de março de 2015

Claude-Achille Debussy


Claude-Achille Debussy (Saint-Germain-en-Laye, 22 de Agosto de 1862 - Paris, 25 de Março de 1918), músico e compositor francês, morreu há 97 anos.

Claude Debussy - Clair de Lune




Béla Bartók


Béla Bartók (Nagyszentmiklós, 25 de março de 1881 – Nova Iorque, 26 de setembro de 1945), compositor, pianista e investigador da música popular da Europa Central e do Leste, faria hoje 134 anos.


Música para Cordas, Percussão e Celesta (1936)

Concerto para Orquestra (1943)



terça-feira, 24 de março de 2015

Eugénio de Andrade - Canção



(Eunice Muñoz recita Eugénio de Andrade)

Canção

Tinha um cravo no meu balcão; 
veio um rapaz e pediu-mo 
– mãe, dou-lho ou não? 

Sentada, bordava um lenço de mão; 
veio um rapaz e pediu-mo 
– mãe, dou-lho ou não? 

Dei um cravo e dei um lenço, 
só não dei o coração; 
mas se o rapaz mo pedir 
– mãe, dou-lho ou não?

Eugénio de Andrade



(Imagem retirada do site http://poemasemimgem.blogspot.pt/2010/04/cancao.html)

Herberto Helder - Minha cabeça estremece



Minha cabeça estremece

Minha cabeça estremece com todo o esquecimento.
Eu procuro dizer como tudo é outra coisa.
Falo, penso.
Sonho sobre os tremendos ossos dos pés.
É sempre outra coisa, uma
só coisa coberta de nomes.
E a morte passa de boca em boca
com a leve saliva,
com o terror que há sempre
no fundo informulado de uma vida.
Sei que os campos imaginam as suas
próprias rosas.
As pessoas imaginam os seus próprios campos
de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar.

Por vezes tudo se ilumina.
Por vezes canta e sangra.
Eu digo que ninguém se perdoa no tempo.
Que a loucura tem espinhos como uma garganta.
Eu digo: roda ao longe o outono,
e o que é o outono?
As pálpebras batem contra o grande dia masculino
do pensamento.

Deito coisas vivas e mortas no espírito da obra.
Minha vida extasia-se como uma câmara de tochas.

- Era uma casa - como direi? - absoluta.

Eu jogo, eu juro.
Era uma casinfância.
Sei como era uma casa louca.
Eu metias as mãos na água: adormecia,
relembrava.
Os espelhos rachavam-se contra a nossa mocidade.

Apalpo agora o girar das brutais,
líricas rodas da vida.
Há no esquecimento, ou na lembrança
total das coisas,
uma rosa como uma alta cabeça,
um peixe como um movimento
rápido e severo.
Uma rosapeixe dentro da minha ideia
desvairada.
Há copos, garfos inebriados dentro de mim.
- Porque o amor das coisas no seu
tempo futuro
é terrivelmente profundo, é suave,
devastador.

As cadeiras ardiam nos lugares.
Minhas irmãs habitavam ao cimo do movimento
como seres pasmados.
Às vezes riam alto. Teciam-se
em seu escuro terrífico.
A menstruação sonhava podre dentro delas,
à boca da noite.
Cantava muito baixo.
Parecia fluir.
Rodear as mesas, as penumbras fulminadas.
Chovia nas noites terrestres.
Eu quero gritar paralém da loucura terrestre.
- Era húmido, destilado, inspirado.
Havia rigor. Oh, exemplo extremo.
Havia uma essência de oficina.
Uma matéria sensacional no segredo das fruteiras,
com as suas maçãs centrípetas
e as uvas pendidas sobre a maturidade.
Havia a magnólia quente de um gato.
Gato que entrava pelas mãos, ou magnólia
que saía da mão para o rosto
da mãe sombriamente pura.
Ah, mãe louca à volta, sentadamente
completa.
As mãos tocavam por cima do ardor
a carne como um pedaço extasiado.

Era uma casabsoluta - como
direi? - um
sentimento onde algumas pessoas morreriam.
Demência para sorrir elevadamente.
Ter amoras, folhas verdes, espinhos
com pequena treva por todos os cantos.
Nome no espírito como uma rosapeixe.

- Prefiro enlouquecer nos corredores arqueados
agora nas palavras.
Prefiro cantar nas varandas interiores.
Porque havia escadas e mulheres que paravam
minadas de inteligência.
O corpo sem rosáceas, a linguagem
para amar e ruminar.
O leite cantante.

Eu agora mergulho e ascendo como um copo.
Trago para cima essa imagem de água interna.
- Caneta do poema dissolvida no sentido
primacial do poema.
Ou o poema subindo pela caneta,
atravessando seu próprio impulso,
poema regressando.
Tudo se levanta como um cravo,
uma faca levantada.
Tudo morre o seu nome noutro nome.

Poema não saindo do poder da loucura.
Poema como base inconcreta de criação.
Ah, pensar com delicadeza,
imaginar com ferocidade.
Porque eu sou uma vida com furibunda
melancolia,
com furibunda concepção. Com
alguma ironia furibunda.

Sou uma devastação inteligente.
Com malmequeres fabulosos.
Ouro por cima.
A madrugada ou a noite triste tocadas
em trompete. Sou
alguma coisa audível, sensível.
Um movimento.
Cadeira congeminando-se na bacia,
feita o sentar-se.
Ou flores bebendo a jarra.
O silêncio estrutural das flores.
E a mesa por baixo.
A sonhar.

Herberto Helder in «Ou o Poema Contínuo», Assírio & Alvim, 2001


Herberto Helder - Este lugar não existe



Este lugar não existe

Este lugar não existe, fica na Arábia Saudita, no deserto.
Gosto do deserto.
Levei tábuas e pregos.
Ferramentas, as belas ferramentas dos homens.
Levei água, víveres, sementes.
Não eram sementes de trigo ou aveia, nem de cravos — também não eram sementes de máquinas.
As belas máquinas dos homens.
Não me lembro se fui pelo ar.
Não me lembro da lenta e progressiva despedida, quando se anda pelas terras, o labirinto doloroso, a alegria, quando se vai pelas terras, e nos despedimos, primeiro de um corpo, depois de um sítio, depois de um odor, uma luz, uma voz, os arrabaldes, os sinais, as palavras, as temperaturas.
Não me lembro de quando se vai deixando.
Foi portanto pelo ar.
Levei tudo para experimentar o deserto.
Comprei tábuas, água, sementes, ferramentas — as belas ferramentas.
Tenho uma pequena ciência.
Aprendi.
Vamos lá ver esse lugar que não existe, na Arábia Saudita, no deserto.
Ficava no meio.
No meio é bom — há uma coisa que se chama à volta.
Serve para estar bem só.
Comprei tábuas, sementes e águas.
Não era trigo, nem cravos, nem sementes de cores, das cores que amamos com uma dor no corpo.
Eram sementes de cabeças de crianças.
Não serão nabos, ou rosas, ou sementes de algodão?, perguntei no ervanário.
Não serão sementes de sono, ou sementes de tabaco, ou daquelas sementes de paisagem verde ocidental?
Eram sementes de cabeças de crianças.
Tenho uma pequena ciência.
Fiz como nos livros.
Dividi-me em sete dias.
Com os meus dez dedos enchi os dias, e depois com os meus ouvidos e o meu coração sôfrego.
Da minha virgindade dos desertos tirei a minha ciência dos desertos.
Espalhei os dez dedos pelos dias e, primeiro, criei os céus e as areias daquele lugar que não havia.
Depois, os dois luzeiros: um para o dia e o outro para a noite do deserto.
No terceiro dia, fiz uma casa com um alpendre e uma cadeira no alpendre.
Foi então que senti o sangue bater na minha noite e soube do sinistro silêncio de toda a minha vida, e era o quarto dia.
No quinto, lancei às areias, a toda a volta da casa, até onde podia, todas aquelas sementes que não eram de cravos, nem de trigo, nem de algodão — as sementes — lancei à minha volta o futuro nascimento, e fiquei no meio do nascimento, cercado pelo futuro nascimento.
Depois pensei, como pode pensar um animal criador extenuado, porque eu tinha-me criado a mim mesmo, e era uma criatura quente e exausta, e estava cheio da dor e da alegria da minha obra — era então o sexto dia.
E no sétimo dia vi que tudo tinha um sentido, e sentei-me na minha casa, no meu alpendre, na minha cadeira.
Pela escrita tinha eu pois chegado ao sétimo dia, ligando tudo, ligando o que não é como que visível mas é como que audível, semelhante às correntes de água subterrânea que o nosso próprio corpo solitário sente deitado sobre a terra.
Estava sentado na cadeira criada no terceiro dia, rodeado pela sementeira do quinto dia.
Era uma sementeira de cabeças de crianças.
Não serão nabos ou rosas?, perguntei no ervanário.
Não eram.
Porque principiaram a sair da areia na tarde do sétimo dia, e floresceram, sombrias e doces cabeças de crianças — era terrível.
Seriam verdes-garrafa?
Cabeças de crianças do tamanho de cabeças de crianças — vivas, oscilantes, latejantes sobre o pedúnculo que irrompia do deserto, à volta da minha casa, do meu alpendre, da minha cadeira, do meu coração que nunca mais dormiria.
Começaram então a sussurrar — e eu pensei: a aragem do fim do sétimo dia passa sobre um campo de corolas verdes, como no mundo, e há o sussurro vegetal, o ondular verde-garrafa, em frente da casa de um proprietário como no mundo.
Mas eram cabeças de crianças.
E as minhas tábuas e pregos e víveres, a minha água e a cadeira, e o meu coração estavam cercados pelo sussurro das cabeças das crianças.
Eu nunca mais dormiria — era de noite, era agora a minha noite.
E então elas começaram a cantar — na minha noite.
Eu estava sentado na cadeira, no alpendre, na casa — e as vozes levantavam-se, eram altas, altas, inocentes e terríveis, cada vez mais belas, mais sufocantes.
No deserto.
O meu coração nunca mais dormiria.
Não serão cravos, ou nabos, ou máquinas?, perguntei no ervanário.
Eram cabeças de crianças.

Herberto Helder, Apresentação do Rosto, Lisboa, Ulisseia, 1968